domingo, 15 de agosto de 2010

Abertura

Há dois anos, criei o blog www.conselhosdeumpoeta.blogspot.com, com um trabalho de 21, 22 poemas, coisa assim. Publiquei os poemas, um por semana, e fim. O blog serve como livro virtual de um trabalho. Não posto novos textos para preservar a unidade e coesão daquele trabalho. Toda a estética do blog - cores, imagens, tipografia - também foi escolhida para enfatizar os assuntos tratados por aqueles textos.

O "primeira jornada" é algo parecido, mas um pouco diferente. Meu blog para postar textos soltos é o www.desconceito.blogspot.com, que está fechado há uns meses por besteira minha. Isso não significa de forma alguma que parei de escrever, e os textos que tenho escrito, principalmente a partir do segundo semestre de 2010, assim como os textos do "Conselhos", têm coerência e unidade entre si. Por isso decidi dedicar um blog inteiro para eles. Assim, quando cansar desta forma de escrever poemas que tenho exercitado abandone este blog como um fantasma bem delineado e coeso.

Mas então, o que é "A primeira Jornada ao Absoluto"? A palavra Jornada me agradou porque são poemas de viagem. Não falo das viagens geográficas, mas das espirituais que faz o escritor à procura do texto. Da dura empreitada do poeta ao encontro da poesis.

Essa busca me interessou pela natureza dos poemas que vinha escrevendo. Antes da série que apresento neste blog escrevia poemas imaturos, como ainda os são esses que apresentarei aqui, mas cristalinos. Eles encerravam em suas formas e materiais uma impressão estática de minha mocidade. A vivência já estava morta e incinerada em mim. O poema era certo, mesmo quando duvidava era certo, sabia desde a partida onde ficava a linha de chegada.

Quando comecei a escrever os poemas da "Primeira Jornada" não sabia aonde chegaria, apenas desejava escrever daquela forma. Uma condição de processo pareceu unir todos esses textos: uma total falta de maturação das experiências que desencadeariam a poesia. São poemas escritos em sarjetas lá pras tantas da manhã, depois que todos já foram dormir. Ou em paradas de ônibus enquanto se espera o bacurau.

Os poemas deste blog não são cristais, constatações do espírito; mas o próprio processo de sua cristalização, eles são os trabalhos de meu espírito aglutinados e expostos no papel. Portanto, se haverá cristal ou não ao fim varia. Essa questão do produto acabado perde a importância face ao que eu ofereço: Minhas energias, meus caminhos, as minhas impressões de mundo se desenvolvendo, se desdobrando.

Assim, partimos eu, texto e leitor, juntos, de um determinado ponto, até mesmo com uma certa noção de para onde iremos, mas dali para onde realmente vamos, onde encontraremos nossa linha de chegada pouco importa. O que importa é a caminhada, são as curvas e as surpresas que encontraremos pelo caminho e que muitas vezes nos convidarão a mudar de rumo. E desses rumos e curvas ao desconhecido passamos a andar para não sei. E é aí, neste ponto que a poesia finalmente roça no caos, no sagrado, no inexplicável. Finalmente a energia que emana das palavras parece mostrar ao leitor que seu grito é uma luta surda para dar a ver o que ainda não é possível escrever.

Também percebi depois de os olhar com alguma distância, que essa característica de poema mais processo que produto dá a eles uma imaturidade, um excesso que eu poderia muito melhor aproveitar como traço de estilo que rejeitar como vício de mau escritor. Talvez eu seja realmente um mau escritor, mas esses poemas excessivos, exagerados nas imagens, caóticos e por vezes incoerentes, cujos ritmos, rimas e métricas são terrivelmente intuitivos e desleixados - verdadeiro combate de náufrago para não afogar-se - me permitem transmitir a atmosfera de angustias e excessos e bagunças da geração XI, da qual faço parte, e são tão mais coerentes com a minha personalidade que me parecem espelho muito mais fiel do que passamos nessa infinita jornada ao absoluto de cada dia. Em suma, percebi que me sinto muito mais à vontade escrevendo assim.

Quanto ao último nome, "absoluto", por quê? Ele é um nome que me chegou depois e está relacionado à uma temática que pode ser encontrada em todos os poemas, tanto em seus temas quanto em suas formas. Todos os textos, cada um do seu jeito, expõe uma luta pela completude. Imagino que numa sociedade de tantas possibilidades, com tantas  referências e uma complexidade nunca vista de escolhas, a certeza, a sensação de harmonia, de estar integrado por completo ao sistema que o cerca seja impossível. Porém, mesmo que impossível, ela não deixa, de forma alguma, de assombrar nossos sonhos mais intimos.
 
Pronto, dessas viagens todas nasceu o nome "Primeira Jornada ao Abosuto".


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