segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Giacomo de Marco Testa

Permita que eu seja teu amante
E não teu amado
Para que tu gozes a mocidade antes
Que os cabelos embranqueçam

E eu mantenha teu sangue caliente
Antes que o inverno desabroche em varizes
E este fruto atinja a maturidade
Permita que eu regue esta semente
Seja a água que absorve teu  caule

Permita que eu não seja teu redento
E sim o teu pecado
Que eu desperte no teu peito de donzela
Os deleites do momento
A vulgaridade que tempera a carne
O ser por inteiro que atravessa o tempo presente

Permita que eu seja teu amigo
E não teu namorado
Que eu tenha a nobreza dos menestréis
Das cantigas do passado
E te entranhe como a musa
Mistifica o inspirado

Que nos unifiquemos sem culpa
Sem o julgo da doutrina
Protegidos nos muros altos
De um castelo isolados lábios
Onde possamos ser livres

Dos outros
Para o outro
E do outro

Permita que eu seja Giacomo Casanova
Ou D. Juan de Marco
Um deslize de menina
Um presente do passado

A certeza que pelo menos uma vez
O amor te desejou completa
O amor te buscou sem trégua
E não deitado, jogado, desleixado
De costas, na cama, ao teu lado

Para nos trancarmos num quarto
Muito além do preconceito
E confessarmos sem medo ou ciúme
As desilusões do amor verdadeiro
Sem deixar de nos amarmos
Quanto mais nós amaremos

Como filhos do mesmo órgão despedaçado
Ou almas gêmeas que caminham
Para o mesmo destino trágico
E se confundem em segredo
Para dividir o mesmo fardo

Permita que eu seja teu amante
E não teu carrasco
Que eu nutra tua lua crescente
E te veja desabrochar saudável
No solo árido do ser amado

Permita que eu provoque tuas espinhas
E não teus calos
Que eu te apresente livros, discos, poetas
Que te desperte sentidos, impulsos, sabores
E não teu desfecho
E não teu estrago



Um poema romântico, que versa sobre o envelhecimento, sobre os remorsos, os desgostos e os sacrifícios que nos custam envelhecer sem envilescer, eis a questão. E ao mesmo tempo safado, devido à minha vocação para amante.

Um comentário:

  1. Não preciso nem dizer-te o quanto me emocionei com este poema você mesmo o viu, é lindo e dito com tanta propriedade por uma pessoa ainda tão jovem, fala dos sentimentos e pensamentos que acompanham o processo de amadurecimento, não gosto da palavra envelhecimento. Parabéns meu poeta bjs

    ResponderExcluir